As áreas de pastagem se configuram na maior cultura agrícola do Brasil, ocupando mais de 172 milhões de hectares, aproximadamente 20% da área agriculturável do nosso território (IBGE, 2007). Assim, o pasto é o alimento quase que exclusivo de um rebanho de aproximadamente 180 milhões de cabeças, tendo em vista as estimativas de que 97% dos animais abatidos são alimentados somente com pastagens.
Apesar da inegável importância das pastagens nos sistemas pecuários brasileiros, levantamentos citam que 80% das pastagens cultivadas se encontram em algum estado de degradação (Barcellos e Vilela, 2001) ou em áreas com solos degradados.
Esse descaso com as áreas de pastagens é histórico, e decorre de uma mentalidade extrativista que até hoje perdura na atividade pecuária. Pecuaristas que tradicionalmente consideram o boi como reserva de capital e a bovinocultura como atividade de baixo risco, ou então, atividade cujo intuito principal é a posse da terra (Veiga et al., 2004). Ao longo desse processo extrativista, as grandes áreas degradadas aparecem como resultado de uma sucessão de erros comumente cometidos pelos pecuaristas, como: a escolha errada da espécie ou cultivar de planta forrageira a ser implantado, o manejo inadequado das plantas forrageiras, a exaustão da fertilidade e a falta de conservação dos solos.
O manejo inadequado das plantas forrageiras está invariavelmente ligado à negligência com uma das condições básicas para o desenvolvimento sustentável de um sistema pecuário, a adequação entre o suprimento e a demanda de alimentos, resultando normalmente em situações de ocupação excessiva de áreas de pastagens e conseqüente superpastejo.
Apesar de sistemas de produção animal em pastagens apresentem certo grau de flexibilidade no que se refere às metas de manejo do pasto e a tolerância a períodos de estresse climático, desajustes muito intensos ou por períodos muito prolongados entre suprimento e demanda, comprometem a capacidade produtiva da planta e, por conseqüência, do sistema de produção.
Um dos principais obstáculos para a correção desse problema é o fato de a alimentação de animais em pastagens resultar da combinação de processos biológicos complexos que determinam a produção e utilização da forragem. Muitos desses processos não são passíveis de intervenções ou controle, e assim incorporam grande variabilidade ao sistema, dificultando seu planejamento.
Para contornar esses problemas a pecuária brasileira tem adotado sistemas extensivos de produção. Assim, sistemas pastoris com baixas taxas de lotação apresentam baixa eficiência de colheita da forragem, resultando em acúmulo de forragem suficiente para tamponar variações inesperadas na produtividade da pastagem, e eventuais efeitos negativos no desempenho animal.
Essa opção, apesar do baixo risco, tem levado a índices de produtividade e rentabilidade muito pequenos e nos últimos anos à substituição da pecuária por outras atividades agrícolas conforme indicam os dados preliminares do último censo agropecuário segundo o qual a área de pastagens diminuiu 3% na última década enquanto a área de agricultura aumentou 83% (IBGE, 2007).
A menor rentabilidade da atividade decorre não apenas da baixa produtividade, mas também da valorização da terra em relação ao boi, e do aumento dos custos de produção combinada a uma nova conjuntura. Nesse cenário, o desmatamento e abertura de novas áreas estão cada vez mais difíceis, restringindo a expansão da fronteira agrícola, com isso inserindo a pecuária em um novo contexto com base na intensificação (Barioni et al., 2003). Taxas de lotação mais elevadas, com a razão entre estoque e demanda de forragem estreita, levando as alterações na taxa de crescimento da pastagem a se refletirem rapidamente na massa de forragem e no desempenho animal, diminuindo de maneira sensível a capacidade de tamponamento do sistema pastoril (Barioni e Martha Junior, 2003).
Nessa nova realidade, a adoção de tecnologias que possibilitem prever a magnitude da produção, e a sua distribuição ao longo do ano, identificando possíveis momentos de déficit ou excesso de alimentos passa a ser um grande diferencial para o sucesso ou fracasso da atividade.
Em geral, pastagens apresentam acentuada variação estacional na produção de forragem. Além disso, a demanda de forragem pode apresentar padrões sazonais em razão das épocas de compra e de venda de animais, da estação de monta e parição, e da taxa de crescimento dos animais. Mudanças na área de pastagens e no número de animais do rebanho também podem ocorrer durante o desenvolvimento de um projeto de pecuária.
O planejamento torna-se, portanto, essencial para garantir o equilíbrio entre produção e demanda de forragem, visando a assegurar alta eficiência de utilização das pastagens e a manutenção de condições favoráveis à sua produtividade e ao desempenho animal.
O orçamento forrageiro é um instrumento no planejamento alimentar que visa a apoiar a tomada de decisões quanto à taxa de lotação e manejo dos recursos forrageiros nos níveis estratégico e tático (Milligan et al., 1987). Decisões estratégicas têm horizonte igual ou superior a um ano, normalmente envolvendo metas para três a cinco anos (longo prazo). Assim, se estabelece as metas para a produtividade, se estima os fluxos financeiros e os índices econômicos, além de se proceder a avaliações de impacto social e ambiental.
Em relação aos recursos forrageiros, o planejamento estratégico do sistema de produção estabelece, em linhas gerais, estimativas da quantidade de forragem produzida em cada área ou piquete e as metas para taxa de lotação, produtividade animal e quantidade demandada de forragem.
O planejamento tático aborda decisões de médio-prazo e tem por objetivo promover ajustes no planejamento estratégico, considerando ações aplicáveis a um horizonte inferior a um ano (Milligan et al., 1987). Isso envolve, por exemplo, mudanças nas datas para compra e venda de animais em resposta à constatação de uma condição indesejada da pastagem (redução da massa de forragem abaixo da meta, superpartejo); na utilização de áreas para conservação de forragem; na área ou no método de renovação de pastagens em razão de oportunidades de mercado (abertura de novas linhas de crédito, aquisição de sementes, calcário, fertilizantes com relação benefício/custo mais favorável, etc.); na necessidade de controle de pragas, doenças e plantas daninhas; e na formulação de suplementos e na estratégia de suplementação do rebanho.
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